quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Jorge Oom – Assim na terra como no céu

Andamos permanentemente entre ciclos que se amontoam numa espiral de experiências que nos permite saborear o conforto do conhecido e o sal dos momentos únicos. Para mim não há melhor síntese que a época do natal.
Porque o natal representa sempre uma plataforma entre as memórias mais antigas que temos, entre os prazeres mais raro que vivemos e a angústia de não sermos capazes de manter a mesma envolvência com os outros ao logo do resto do ano. Dos anos!
Mas há pessoas que pela sua experiência de vida, pelo amor que sempre colocam em tudo o que fazem nos transmitem essa estranha sensação de que podemos inverter a dimensão da fracção de tempo em que a disponibilidade para os outros está presente na nossa consciência.
Ficamos confusos entre o prazer de sentir a possibilidade e a frustração de perceber que não está ao alcance de todos. Mas o deleite que é sentirmo-nos que conseguimos alcançar a superioridade que é viver uma vida respeitando e inspirando os outros. Respeitar é das coisas mais difíceis que há. Inspirar não é fácil. As duas? Só raramente se encontram

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Bem bom - Rui Reininho

Na vida moderna parece que é mais importante parecer do que ser. Aparecer que recordar. Na realidade tanto faz.
Ninguém repara!
Ou se repara, ninguém liga ao reparo, o que não sendo o mesmo vai dar ao mesmo.
O brilho das coisas passou a ser mais importante que o seu verdadeiro valor, num elogio da aparência onde o que conta não é a substancia mas a impressão: dar a entender que se é, nunca se dizendo o que se é.
Ter uma história, não interessa qual. Uma. Porque quem tem história tem referências e na sociedade de hoje… contam mais as referências que as realidades.
No meio deste vazio há, no entanto, quem tenha tido uma história para contar. Quem já tenha tido uma mensagem. Aí o que conta é manter a coerência ou saber parar. Mas nestes tempos complexos, tão complexos como os de sempre, mas pior porque são complexidades que ainda não entendemos, ficar para trás, só nas memórias pode ser doloroso. Aí o que passa a ser importante é quebrar o esquecimento, mantendo meios de subsistência quer ela seja criativa, moral ou económica.
Não nos competindo julgar as motivações, vamos constatando que o próprio vazio da vida moderna, onde a criatividade parece ter sido entregue a máquinas, gera fenómenos de regressos de zombies, mais ou menos mortos, que se agarram ao passado tentando apagar o tempo. O hiato de tempo em que não existiram. Aí podem, tal como toda a história, voltar como comédia ou como tragédia.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Alhur

Vive-se numa época demasiado turbulenta onde não há tempo para reparar em pormenores. Nem recordações. Muito menos ligar recordações com pormenores que nos liguem a uma vida diferente daquela a que mesmo recusando parecemos tratar como destino, evitando tomar medidas que verdadeiramente a alterem. O nosso destino parece ser o de evitar mudar os acontecimentos como se não pudéssemos controlar nada.
Parei, nos últimos meses, por alguns segundos, em pequenas coisas que parecem fazer sentido por si, mas cuja ligação é incómoda porque põe em causa as nossas próprias escolhas. Chamei a este primeiro post “alhur” porque a reedição dos 2 primeiros discos da Né Ladeiras são o culminar desses pormenores que não consegui evitar de ligar entre si.
Porque tem que haver sempre um doce “Arabis” nos nossos corações.